segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Anorexia

Anorexia é um distúrbio alimentar, que ocorre muito mais em pessoas jovens (dos 15 – 25 anos), onde a pessoa se enxerga gorda, apesar de estar muito abaixo do peso ideal. Existe uma preocupação exagerada com o peso, uma recusa a se alimentar e um medo intenso de engordar. Os anoréxicos tem uma ingestão calórica muito abaixo do indicado e em alguns casos come-se apenas uma maça por dia. Geralmente eles praticam muitos exercícios, tomam laxantes e diuréticos.
A pessoa quer emagrecer sempre mais, não importando quantos quilos já tenha perdido. Em casos graves, a anoréxica perde todo o cabelo e há ausência de menstruação. É um distúrbio seriíssimo, porque muitos morrem de inanição.
A própria palavra “anorexia”, que vem do grego e quer dizer falta de apetite, já não é bem apropriada. Faz tempo que se sabe que anorexia não é falta de apetite, mas sim, uma recusa do alimento. É também errado afirmar que anorexia acontece apenas com mulheres, porque embora menos freqüente, também ocorre em homens.
Muitos acreditam que a influência da mídia é a principal causa de transtornos alimentares. Isto porque a mídia sempre impõe o estereótipo em que a magreza é um fator importantíssimo, senão indispensável, para o sucesso social, amoroso e econômico.
Mas o que faz com que uma pessoa desenvolva anorexia e outra não, sendo que ambas estão sob a mesma pressão social do ideal de beleza? Para responder essa pergunta, temos que levar em consideração a singulariedade de cada um. Seria um erro culpar somente a cultura. A própria pessoa tem a sua parcela no distúrbio, juntamente com a sua história de vida.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O que é normal e o que é patológico?

A Psicopatologia define a normalidade a partir de alguns critérios:
1) Normalidade como ausência de doenças, ou seja, a pessoa é normal quando não possui nenhuma doença. Porém esse critério é falho porque define a normalidade não por aquilo que ela é, mas sim pelo o que não é.
2)Normalidade Ideal: se estabelece um ideal do que é sadio e evoluído, o normal seriam as pessoas que estivessem dentro desse padrão.
3)Normalidade Estatística: é considerado normal aquilo que a maioria faz. Se a pessoa faz algo diferente da maioria então já não é mais considerada uma pessoa normal.
4)Normalidade como bem-estar: seria normal quem tem completo bem-estar físico, mental e social.
5)Normalidade Funcional: é considerado patológico quando provoca sofrimento para a própria pessoa ou para o meio social.
6) Normalidade como processo: cada fase de desenvolvimento possui características normais que à medida que muda a faixa etária muda-se também o que é considerado normal naquela idade.
7)Normalidade Subjetiva: quando a pessoa se vê bem e feliz então ela está dentro do padrão de normalidade.
8)Normalidade como liberdade: quando a pessoa é livre para ir e vir e responsável por seus atos, então ela é considerada uma pessoa normal.
9) Normalidade Operacional: define-se a priori o que é normal e o que é patológico.
Um critério apenas não consegue definir o que é a normalidade. A partir do momento que se estabelece o que é normal, tudo o que está fora, ou não se encaixa nesse padrão é considerado patológico.
Esse critério é injusto porque há de se perguntar: normal para quem? Normal para a sociedade? Para a própria pessoa? Para os pais? Será que é certo a sociedade estabelecer o que é normal, dentro dos padrões esperados e desejados de conduta do ser humano? E quanto aqueles que são diferentes? Por não se enquadrarem nos padrões podem ser considerados anormais?
Não se pode esquecer que o que é considerado normal numa cultura, pode ser considero anormal em outra. E até mesmo o que uma vez foi considerado anormal, hoje pode ser considerado normal, dentro de uma mesma cultura, como é o caso dos homossexuais. Cada geração tem padrões de normalidades diferentes, porque eles também mudam com o passar do tempo.
A cultura em si já estabelece os valores morais que são passados de pai para filho. Mas nem a cultura, nem os pais, pode impedir a pessoa de fazer o que ela quer, mesmo que seja considerado errado. Porque o que pode ser errado para a cultura e para os pais, muitas vezes não é errado para o próprio sujeito.
Para a Psicanálise não existe o normal e o patológico, isso não está dado a priori. Só é possível falar em normalidade enquanto falarmos de normalidade singular, isto é, o que é normal para cada pessoa, porque cada pessoa é única. Cada um define o certo e o que é errado para si próprio.
A Psicanálise não trabalha para tentar enquadrar a pessoa dentro dos padrões de normalidade. Isso iria contra o que existe de mais humano, que é a singularidade, porque não existem duas pessoas iguais no mundo. Querer que todas as pessoas pensem e se comportem iguais é desumano, é tirar delas o que cada um tem de único. Cada pessoa sabe da sua própria vida e o que dela faz, mas claro que também terá conseqüências de todos os seus atos. Isso não quer dizer que a pessoa vai sair por ai fazendo tudo o que tem vontade, sem levar em consideração os outros. As leis existem e são necessárias para barrar sujeito de suas vontades, caso contrário o mundo viveria em caos.
Quanto aos valores morais e religiosos fica á cargo das igrejas, dos pais e da sociedade. Os Psicanalistas vão se ocupar do desejo do sujeito, seu gozo, sua queixa e o seu sofrimento.


Daniela Bittencourt -Psicóloga Clínica.

sábado, 19 de julho de 2008

A Psicanálise está mais viva do que nunca

Essa foi à matéria da revista Cult, do mês de junho. Aonde se encontra também um dossiê sobre “A resistência intelectual de Jacques Lacan”. A reportagem fala que por um tempo acreditava-se que a Psicanálise estivesse em crise, graças aos avanços das neurociências, das teorias cognitivas, da clínica psiquiatria e com o surgimento de numerosos remédios para tratar cada doença psíquica. A Psicanálise esteve em alta nos anos de sua descoberta, por Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, mas que com o advento de novas teorias, mais rápidas e modernas, muitos acreditaram que a Psicanálise se tornou uma teoria ultrapassada. Entretanto se pode afirmam que o tempo da Psicanálise chegou só agora e que frente às dificuldades da modernidade que Freud adquirirá seu real valor.
Freud situava a Psicanálise na série das três humilhações sucessivas do homem, as três feridas narcísicas, como ele denominava. Em primeiro lugar, Copérnico demonstrou que a terra girava em torno do sol e não em torno da terra como se pensava. Em segundo lugar Darwin demonstrou que éramos produto de uma evolução cega, privando-nos do nosso lugar privilegiado entre as criaturas vivas. E o terceiro, Freud com a descoberta do inconsciente e seu papel predominante nos processos psíquicos, aonde o homem não é o senhor da sua própria casa, isto é, o ser humano não é regido pela sua consciência, mas sim pelo inconsciente.
E justamente porque o ser humano é regido pelo inconsciente, que a Psicanálise, não vai perder nunca o seu lugar, sendo a própria a única teoria que tem como base de estudo e tratamento o inconsciente.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Você é o que você compra?

Todo mundo já ouviu a frase: você é o que você come você é o que você pensa, mas a mais nova é que você é o que você compra. Será mesmo que as compras podem definir o que é o ser humano? Não, o que se pode dizer é que as compras demonstram os gostos, estilos, praticidade ou não, entre outras coisas de cada pessoa.
Você é o que você pensa? Para Sigmund Freud é exatamente o contrário, o sujeito é aonde não pensa isso porque ele acreditava que a maior parte da vida psíquica é inconsciente e que apenas uma pequena parte do psiquismo é consciente. Logo os pensamentos estão situados na consciência e por isso que os pensamentos não são por si só capazes de definir o homem.
Para a Psicanálise o sujeito é aonde goza. Gozo é diferente de prazer, gozo é um prazer inconsciente e ao mesmo tempo desprazer consciente. Há algo que se repeti no ser humano em todas as suas escolhas de objetos. Existe um determinismo psíquico, onde a pessoa é determinada pelo seu inconsciente. O sintoma, os sonhos e os atos falhos demonstram quem a pessoa é, porque através deles o inconsciente se manifesta.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica

terça-feira, 1 de julho de 2008

Psicanálise, você conhece?

A Psicanálise é uma prática clínica para o tratamento de doenças psíquicas. Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, começou a desenvolver sua teoria a partir de estudos com pacientes histéricas, entre os anos de 1887-1897. E foi com as pacientes histéricas que ele observou que havia algo que as próprias pacientes não sabiam sobre si mesma. Constatou isso, porque durante o processo de hipnose, elas falavam de algo que fora desse processo não lembravam. Utilizou a técnica da hipnose por um tempo, mas depois a abandonou e criou uma nova técnica: a associação livre, que se torna a regra fundamental da Psicanálise. Essa técnica consiste em deixar o paciente falar, tudo o que lhe vem à cabeça, sem restrições. Supondo que existe algo que o sujeito não sabe sobre si mesmo, a isso Freud denomina inconsciente. Acreditava que apenas uma pequena parte da vida psíquica era consciente, que alguns conteúdos são pré-consciente, mas, que a maioria é inconsciente. O consciente contém informações que o sujeito sabe sobre si mesmo. O pré - consciente aquilo que não lembra na hora, mas que pode trazer para a consciência. E o inconsciente seria a parte mais arcaica do aparelho psíquico, aquela parte que não temos acesso. Sabemos que o inconsciente existe porque ele se manifesta, através dos sonhos, atos falhos e sintomas. Se o inconsciente se manifesta através dos sonhos, logo a psicanálise não é apenas para pessoas doentes, porque todos sonham. Freud foi muito criticado em sua época por acreditar que a vida sexual não começa na puberdade, mas sim na infância. Assim como a personalidade também é formada nos primeiros anos de vida. Ele foi ainda mais longe, afirmou que a origem da neurose estava na infância e a sua causa é sempre sexual. Se a raiz de toda neurose, pertence não ao momento atual, mas a primeira infância é por isso que o sujeito nada sabe sobre isso, porque ele esqueceu, ou melhor, reprimiu em seu inconsciente. Por isso temos poucas lembranças, ou quase nenhuma, dos primeiros anos de vida. É necessário analisar a infância para chegar à causa da neurose, assim como também é fundamental trazer para consciência todo o conteúdo que está reprimido no inconsciente, para que possa ser elaborado e assim obter a resolução do problema. A Psicanálise é um método de cura pelas palavras. O tratamento define-se por sessões de análise semanal. Parte da linguagem, da fala do sujeito, porque é somente através da linguagem que se pode chegar ao mundo simbólico. Cada sujeito é único, por isso que a análise se dá um a um. O tratamento Psicanalítico consiste em entrar nesse mundo simbólico do paciente, ouvir sua queixa, seu sintoma. Mas vai além, procura entender o que está por trás desse sofrimento, buscando sempre as respostas no próprio inconsciente do sujeito. Tem como finalidade trazer para a consciência todo o material que está reprimido no inconsciente, elaborá-lo, aliviar a dor, tirar o sintoma, chegar à verdade do sujeito e obter a resolução de sua neurose. O objetivo da Psicanálise é arrancar a neurose pela raiz, e não o de podar-lhe o topo. Mesmo depois da morte de Freud, a psicanálise continuou a ser estudada e discutida entre outros autores, e sendo também transformada e direcionada para os tempos atuais.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Homossexualismo: é genético, é uma escolha ou está na moda?

Sigmund Freud foi quem mudou o conceito de que o homossexualismo trata-se de uma doença. O homossexualismo não é uma escolha, não é uma tendência da moda e muito menos se trata de genética. O ser humano não escolhe por quem vai se apaixonar. Existe nele um determinismo psíquico, onde a pessoa é determinada pelo seu inconsciente. Não se nasce homem ou mulher, o que vai definir a sexualidade, independente do órgão sexual, são as primeiras experiências sexuais infantis, porque ali se constroem o desejo. A sexualidade é uma construção e depende da história de vida de cada um. Os primeiros anos de vida definem a personalidade, a sexualidade, as escolhas e gostos do sujeito. A origem de problemas psíquicos está na infância, e desta forma a vida adulta será determinada por acontecimentos e vivências deste período de vida.

Daniela Bittencourt -Psicóloga Clínica.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Interpretação dos sonhos

Seria um erro considerar que os sonhos não tem importância nenhuma e dizer que o mesmo não tem sentido. Os sonhos dizem respeito á vida psíquica do sujeito. Freud interpretou os sonhos dos seus pacientes e para ele os sonhos são a realização de um desejo inconsciente e infantil. Todos os sonhos têm o mesmo sentido, embora possam parecer sonhos totalmente diferentes e sem nenhuma ligação entre eles.
O sonho é uma manifestação do inconsciente, o sonho fala sobre o sonhador. Por que sonhamos com coisas que aconteceram no dia anterior? Porque o sonho utiliza-se dos restos diurnos; acontecimentos, pensamentos e preocupações para se ligar a um conteúdo inconsciente reprimido. Os restos diurnos não são capazes de produzir um sonho e o inconsciente precisa deles, para que o siginificado inconsciente do sonho não seja revelado. Por que é tão difícil entender os sonhos? Porque os sonhos vêm distorcidos e sem sentido, justamente para que a pessoa não entenda. Muito comum também é o esquecimentos de umas partes do sonho ao acordar, ou o esquecimento total, ao longo do dia.
E por que o inconsciente se manifesta nos sonhos e não se manifesta enquanto estamos acordados? Porque é durante o sono que as resistências diminuem e o material inconsciente consegue passar para á consciência, mas só de forma distorcida. O inconsciente se manifesta também durante o dia, mas de outra forma: através do sintoma, atos falhos, chistes e esquecimentos.
A Psicanálise trabalha com a interpretação dos sonhos no tratamento de doenças psíquicas, porque através da interpretação dos sonhos pode-se chegar ao conteúdo inconsciente. Porém mais importante que a interpretação dos sonhos é aquilo que o sujeito fala, aquilo que se queixa e sofre, através da fala do sujeito também é possível chegar ao seu conteúdo inconsciente, num processo de análise. Chegando ao conteúdo inconsciente, isto é, o trazendo para a consciência, o mesmo vai poder ser elaborado, para que assim o sujeito possa ter alívio do seu sofrimento.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Muitas pessoas confundem sexualidade em Freud com sexo. Mas o que é a sexualidade para Freud?

Quem nunca ouviu falar que Freud só fala em sexo? Mesmo as pessoas que nunca ouviram nada sobre sua teoria, já ouviram alguma vez na vida que para Freud tudo se resume á sexo. Freud foi alvo de muitas críticas, com a criação de sua teoria, na qual dizia que existia sexualidade na infância.
Quando Freud se referia á sexualidade, se referia á libido, libido é a energia psíquica, uma energia no corpo. A sexualidade diz respeito á um prazer, mas não só o prazer sexual, qualquer prazer, de qualquer parte do corpo. A essas partes Freud denominou zonas erógenas: boca, anus, olhos e os genitais. Essas zonas são capazes de proporcionar muito prazer, dizem respeito ao desenvolvimento sexual do ser humano e a construção da sexualidade e do desejo.
Ao nascer o bebê precisa de um outro, o cuidador, que supre as suas necessidades. A medida que o cuidador, geralmente a mãe, vai tocando o corpo de seu bebê, para limpar, acariciar, ela vai deixando marcas nesse corpo e vai definindo o prazer e o desprazer desse sujeito.
A boca é a primeira zona erógena, durante o primeiro ano de vida o prazer está basicamente na boca. A libido centra-se nos prazeres orais, morder, comer, chupar, lamber, levar objetos à boca, balbuciar. Segunda é a fase anal, que é de dois a três anos, onde o prazer é obtido basicamente na região anal. O prazer está em urinar, no controle do esfíncter, e no alívio de tensão que acompanha a excreção. Terceira fase é a fase fálica, que acontece dos três aos cinco anos. A criança ama o pai do sexo oposto e sente rivalidade pelo genitor do mesmo sexo, conhecido como Complexo de Édipo. Depois é o período de latência se dá por volta do quinto ano, onde as necessidades sexuais ficam adormecidas, o interesse da criança está voltado á socialização. Por último a fase genital, a qual desperta os interesses genitais, tem início na puberdade e se estende por toda a fase adulta.
Se as necessidades de cada fase não são satisfeitas durante o seu período, ou são exageradamente satisfeitas, o sujeito pode ficar fixados nessa fase. A medida que vai se desenvolvendo a criança vai deixando fixações nas zonas erógenas, em umas mais, em outras menos, dependendo da sua história de vida infantil. Ao passar por essas zonas erógenas o ser humano vai construindo a sua sexualidade.

Daniela Bittencourt -Psicóloga Clínica.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Anorexia, Bulimia e Vigorexia.

Anorexia, bulimia e vigorexia são transtornos alimentares. Na anorexia, a pessoa come muito pouco, porque se acha gorda mesmo já estando abaixo do peso ideal. Na bulimia, a pessoa come muito em pouco tempo, de forma compulsiva e depois vomita ou não. Vigorexia, a pessoa se acha "magra" e quer ganhar massa muscular a todo custo, malha excessivamente, toma vários suplementos alimentares, quando não, “coisas mais pesadas”, para atingir seu objetivo.
Vivemos numa era narcísica, onde o culto ao corpo é muito evidente. As dietas radicais, as cirurgias plásticas, o excesso de exercício e o uso indevido de remédios, vêm crescendo cada vez mais, na promessa de obter o corpo perfeito e a eterna juventude. É fundamental compreender como a sociedade e seus membros pensam e se comportam em relação ao corpo e alimentação, para entender os transtornos alimentares. A cultura contribui para a produção e a manutenção desses transtornos.
A beleza fica no ideal de ego e, portanto, inatingível. Busca-se a “perfeição” e por isso há sempre uma insatisfação crônica em relação ao corpo, levando em consideração que a “perfeição” não existe. O medo de não ser bonita é vivido como ameaça de morte psíquica, por isso busca enlouquecida.
Qual é a parcela da cultura nesses transtornos? E qual é a parte do próprio sujeito? Até onde ele está implicado com o seu sintoma? O que da vida desse sujeito que o influenciou para esse caminho?
O que poderíamos dizer desse mal estar no corpo? E por que no corpo? Qual a relação do corpo com as doenças psíquicas? Freud já dizia que as doenças psíquicas se convertem para o corpo, é no corpo biológico que elas aparecem.
Como é o tratamento desses transtornos? A Psicanálise não trabalha o transtorno, mas sim o sujeito que sofre. E o que ela tem a dizer sobre esse sujeito? Que cada sujeito é único, que não existe ação e reação, causa e efeito nem uma receita pronta, ou um único método capaz de resolver o problema de todos, da mesma forma. A história de vida do sujeito está ligada á etiologia do transtorno e é preciso analisar a sua história, porque só assim poderemos tratá-lo.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica

Como se deu a construção da Teoria Psicanalítica? e porque Freud?

É preciso acompanhar toda a vida de Freud para responder essas perguntas. Faz-se necessário acompanhar a cultura da época também.
Freud nasceu em Freiberg. Os pais de Freud eram judeus, e ele também. Aos quatro anos foi morar em Viena. A condição de sua família era precária, mas isso não o impediu de fazer faculdade de Medicina. Recebeu uma bolsa em Paris, onde trabalhou sobre orientação de Charcot, que era um grande clínico, que despertou interesse de Freud pelas neuroses. Em 1886 Freud retorna a Viena e abre um consultório de neurologia. Freud não ficou apenas com o que estudou, ele aprendeu com suas experiências no seu consultório com as histéricas, e a partir daí foi construindo a sua teoria.
Viveu em Viena até a invasão nazista e com isso se exilou em Londres. Casou-se com Martha Bernays e teve seis filhos. Morou quarenta e sete anos na mesma casa. Exerceu sua profissão, passou pela primeira guerra mundial e pelas dificuldades do pós-guerra.
A religião de Freud era o judaísmo, que recebeu de seus pais, mesmo se considerando agnóstico, a religião foi importante na sua vida. A filosofia, as artes influenciaram Freud na criação da suas idéias. A relação de Freud com seus pais também foi importante, a mãe de Freud era carinhosa e pelo pai ele tinha muito apego.
Os judeus passavam por uma dificuldade para se integrar com a sociedade, por causa do anti-semitismo. O retorno aos padrões tradicionais não era possível porque as condições de vida e as ambições de ascensão social não eram compatíveis. Freud era judeu, mas não era religioso, sempre foi agnóstico.
A leitura precoce da Bíblia deixou nele marcas, ele se identificava com José, que interpretava sonhos, e sobretudo com Moisés. Moisés foi o fundador de uma doutrina, que libertou o povo do Egito, da escravidão, e Freud também queria criar uma teoria, esta que libertasse as pessoas de seu sofrimento psíquico. O fato de ser judeu favoreceu Freud em dois pontos ressaltados pelo mesmo: Primeiro porque ele se viu livre de muitos preconceitos, livre uso de pensar, e também porque estava preparado para opor-se e renunciar ao acordo com a massa compacta. O judaísmo favoreceu o espírito científico. O que atrai Freud não é o conteúdo da religião judaica, mas a alegria de viver e o calor humano que encontra entre os judeus.
O fato de Freud fazer auto-análise, o possibilitou a ser o criador de Psicanálise, porque foi ele quem superou as resistências. Sua vida influenciou sua obra, a sua neurose o fez ir atrás de respostas, assim desenvolve suas idéias. Freud interpretou seu sonho e cria suas convecções sobre interpretação de sonhos. Através da auto-análise ele foi criando a sua teoria, mas a sua teoria também vai direcionando a sua vida.
A psicanálise surgiu a partir das experiências de Freud no tratamento das neuroses em seu consultório. Quando Freud atendia uma paciente, esta perguntou porque ele não a deixava falar em paz, e assim surge a associação livre. A invenção da psicanálise tem grande contribuição daqueles que Freud chamava respeitosamente de suas “geniais histéricas”.
A primeira contribuição das histéricas foi feita por Ana O, era tratada por Josef Breur, a moça inventou a limpeza da chaminé, método catártico, que ao falar ocorreria liberação das reações emotivas em certos eventos traumáticos. Freud denominou resistência quando pacientes não queriam mais falar. Surge então a representação do conflito psíquico, conflitos entre desejos, pensamentos cujo conteúdo não poderia vir para o consciente. Assim forjou o conceito de inconsciente.
Depois Freud constatou que a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos eram de origem sexual e da infância. A publicação de suas idéias gerou escândalo em Viena.
A disciplina científica de Freud partilha da visão de mundo da ciência e deve ser avaliado pelos critérios aceitos da cientificidade. Houve uma ruptura, da nova forma de tratamento psíquico com a medicina. Na medicina o saber está sempre com o doutor , ao deixar o paciente falar livremente, o psicanalista abandona a posição daquele que sabe para assumir lugar daquele que escuta.
Freud descobriu a psicanálise, sendo o inconsciente uma realidade, acabaria sendo descoberto mais cedo ou mais tarde. Para descobrir o inconsciente não basta observar cuidadosamente os fenômenos ou ser capaz de extrair deles as leis que o governam, é necessário ter vencido as resistências.
A Psicanálise não surgiu em qualquer momento, mas em Viena no fim do século dezenove em meio a profundas transformações na sensibilidade e no pensamento. Viena era uma cidade alegre e despreocupada, investem na cultura e na arte e nos prazeres da boa mesa, bom vinho, boa música e valsa.
Viena hostilizou Freud com suas idéias de sexualidade na infância, mas ele continuava seu caminho, o que o ajudou a continuar foi a sua identificação com um grupo, separado da maioria. Freud era a alguém que buscava o triunfo, a glória movido por uma grande ambição. E este desejo antepõe a sua condição de judeu e de homem pobre.
O primeiro passo da psicanálise se deu pela auto-análise de Freud que pode se libertar emocionalmente e intelectualmente dos obstáculos criados por ele, por sua história infantil. Freud se correspondia com Wilhelm Fliess durante décadas. Nessas cartas estão o processo da gestação da psicanálise, auto-análise de Freud, dúvidas, dificuldade e esperanças. Freud se define em uma das cartas como um conquistador. A relação com Fliess termina juntamente com a conclusão da auto-análise e com a viagem para Roma. O pai de Freud era importante para ele, a sua morte abalou Freud, e o fez ir atrás de respostas das suas neurose.
A psicanálise é antes de mais nada o caminho que Freud inventou para se auto-analisar, para se libertar de seus sofrimentos neuróticos e para exprimir livremente a sua individualidade.

Texto escrito á partir do livro: Sigmund Freud – A conquista do proibido – Renato Mezan.
Daniela Bittencourt – Psicóloga Clínica.

terça-feira, 27 de maio de 2008

O que é a Psicanálise?

A Psicanálise é uma prática clínica, para o tratamento de doenças psíquicas, que trabalha o inconsciente e é direcionada as pessoas que por algum motivo sofrem. É um método de cura pelas palavras, foi criada por Sigmund Freud, na década de 1887 -1897. Acredita que o homem não é sujeito da razão, porque há algo que a razão não consegue explicar, homem é sujeito do inconsciente.

Qual a diferença entre a Psicanálise e a Psicologia?

A Psicologia trabalha a consciência e a Psicanálise o inconsciente. Psicólogo precisa da formação acadêmica e do cadastro no Conselho Regional de Psicologia (CRP), e para se tornar Psicanalista precisa da formação específica para tal, geralmente analistas são médicos ou psicólogos.

A quem se dirige a Psicanálise?

Dirigem-se as pessoas que por algum motivo sofrem, se angustiam e fazem sintomas. Freud denominou sintoma, o que hoje chamamos de patologias tais como: fobias, medos, ansiedade, depressão, transtornos alimentares, obesidade, transtorno obsessivo compulsivo, etc.

Como é o tratamento Psicanalítico?

O tratamento Psicanalítico define-se por sessões de análise semanal. Parte da linguagem da fala, porque é somente através da linguagem que se pode chegar ao mundo simbólico do sujeito. O tratamento tem como finalidade trazer para á consciência, todo conteúdo que está reprimido no inconsciente, para que possa ser elaborado e assim aliviar o sofrimento, tirar o sintoma, chegar a sua verdade e a cura.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica.