quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A vida nunca mais será a mesma sem você...



A morte é a experiência mais angustiante que passamos. Falar sobre a morte é sempre um tema difícil, principalmente em uma sociedade que sonha cada vez mais  com a juventude eterna. Lutamos e ignoramos a morte e esquecemos que ela é um processo natural da vida e que todos, sem exceção, irão passar.
O luto não é um sentimento único, mas sim um conjunto de sentimentos e emoções que requer um tempo para serem digeridos e resolvidos e que não pode ser apressado, cada um de nós tem o seu tempo e isso deve ser respeitado. Apesar de o luto ser uma experiência comum a todas as pessoas, ele é vivenciado de forma diferente por cada pessoa.
O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido. O luto manifesta-se como estado de reação a perda de algo amado e não implica condição patológica desde que seja superado após certo período de tempo. É comum as pessoas passarem por cinco fases diante do luto: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e por último a aceitação.
Com freqüência, as pessoas me perguntam quanto tempo dura o luto. Entendo que esta é uma pergunta diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto.  Aqueles que permanecem expressando tristeza por um tempo prolongado são considerados fracos. Ou seja: o luto passa a ser visto como alguma coisa a ser evitada e não, que precisa ser vivida. Mascarar ou fugir do luto é sempre o pior caminho.
Em muitas famílias, é tabu tocar no assunto. Mas à medida que falamos vamos nos transformando e ganhando força para retomar a vida. Para superar o luto, é importante não sublimar a dor. "É para doer mesmo", O período do luto dura cerca uns dois meses, mas leva-se de um a dois anos para elaborar a perda. A dor da perda é para sempre, mas a intensidade e a característica do sofrimento devem mudar. Nesse momento, o que a pessoa precisa é falar e ser ouvida, pois o "falar" nessa fase é "terapêutico" e nisso os amigos e familiares podem ajudar.
Em relação às crianças, acredito que a verdade deve ser dita, ao contrário do que as pessoas pensam não contar a criança é pior do que contar a verdade, porque uma forma ou outra a criança percebe, nem que seja inconscientemente o que está acontecendo. Alguns optam por não contar acreditando que a criança sofrerá muito com o ocorrido, mas na verdade o não contar é pior porque elimina a possibilidade da criança sofrer pelo luto, passar pela dor e poder simbolizar o que viveu.
Em algumas pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto. As características do luto assimilam-se muito as da melancolia que possui como traços marcantes desânimo profundo e penoso, cessação de interesse pelo mundo externo e inibição de toda e qualquer atividade.  No luto, verificamos que a inibição e a perda de interesse nas atividades diárias são plenamente explicadas pelo trabalho do luto.
Sigmund Freud em seu texto luto e melancolia faz um diferença entre o luto e a melancolia, aonde apenas na melancolia encontramos a presença de baixa auto-estima e auto-recriminação, o mesmo não acontece em casos de luto. Mas é possível que uma pessoa desenvolva melancolia, depressão como é chamado hoje em dia, após a perda de uma pessoa querida.
 Para elaborar o luto a pessoa precisa viver esse luto, sofrer, chorar a falta da pessoa querida, e falar sobre o luto. Como o luto é um processo normal da vida, a maioria das pessoas melhoram com o passar do tempo, mas se os sintomas do luto persistirem é provável que pessoa tenha desenvolvido melancolia em vez de luto e nesses casos o mais indicado é um tratamento, como a terapia.
 Daniela Bittencourt - Psicóloga CRP 12/07184

domingo, 21 de outubro de 2012

O que a Psicanálise tem a dizer sobre o amor?



Que todas as pessoas, quando bebês têm como objeto sexual o seu próprio corpo, isto é: a libido está investida no próprio corpo e ali ela se satisfaz, a isso Freud denominou de narcisismo primário. Libido é a energia psíquica. O eu é antes de tudo um eu corporal, um corpo que sente prazer. Logo pelo corpo não ser completo e por faltar alguma coisa, a pulsão sexual (libido) deixa de ser investida no próprio corpo e passa a ser investida em um objeto fora dele, na tentativa de buscar a completude. O primeiro objeto de amor, fora do sujeito, é a mãe, ou substituto dela, tanto para meninos quanto para meninas.
A mãe é o primeiro objeto de amor, porque ela é a primeira pessoa que a criança tem contato e justamente por isso é nela que o bebê vai investir a sua libido. Nos primeiros meses de vida a criança se vê como se ele e a mãe fossem uma só, ele não consegue diferenciar o que é ele e o que é a mãe.
Dos três aos cinco anos de vida, acontece o Complexo de Édipo. Que seria o ato de apaixonar-se pelo genitor do sexo oposto, isso é normal e acontece com todas as pessoas. Nesse momento a menina investe sua libido no pai e o menino na mãe. Depois todo esse processo é reprimido no inconsciente, por isso que não conseguimos lembrar dos acontecimentos da infância.
Na vida adulta existem dois modos de escolha objetal amorosa que é destacado por Freud como passíveis de eleição pelo sujeito: anaclítico e narcisista. No modelo anaclítico: ama-se segundo o modelo do amor recebido na relação com as figuras parentais, aquela que alimenta (mãe) ou aquele que protege (pai). Neste tipo de amor, o objeto é idealizado e perfeito. O sujeito se apaixona por pessoas que são substitutos paternos, por aquele que mais se aproxima com a mãe ou com o pai que este teve na infância.
Já no modelo narcisista ama-se segundo o que o sujeito é, foi, gostaria de ser, ou alguém que foi parte de si mesmo, ou seja, procura-se a si mesmo como objeto amoroso em outras pessoas. Porém isso não é nem um pouco fácil de perceber porque é um processo inconsciente.
A paixão se baseia nas condições de amor da infância, de forma que tudo aquilo que puder realizar essa condição infantil de amor, será idealizado. Por isso que se apaixonar não é um ato tão livre assim, não dá para escolher por quem vai se apaixonar.
Para a Psicanálise o ser humano não é livre em todas as suas escolhas, porque existe nele um determinismo psíquico, ele é determinado pelas suas experiências infantis, de prazer e desprazer. As escolhas passam pelo nível do desejo e este é uma construção infantil, aonde o sujeito tampouco sabe, por isso muitas vezes se deseja o que não se quer o que não é certo, o errado, o que vai fazer mal e trazer dor.
Segundo Freud quem quer que negligencie a análise infantil está fadado a cair nos mais desastrosos erros. E o trabalho só merece ser reconhecido como Psicanálise quando consegue remover a amnésia que oculta do adulto o seu conhecimento da sua infância.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Angústia, o afeto que não engana



Angústia vem do latim que quer dizer estreitamento, apertamento. Chamamos de angústia a forte sensação caracterizada pelo sufocamento, peito apertão, insegurança, falta de humor, ressentimento e dor. Muitas pessoas confundem angústia e ansiedade, apesar existir diferenças entre elas.
Ansiedade é uma apreensão exagerada em relação ao futuro, uma pré – ocupação, que antecede momentos de perigo real ou imaginário, acompanhado de sensações corporais como batimentos cardíacos acelerado, dor no estomago, tremores. A ansiedade é até certo ponto normal e adaptativa, mas pode tornar-se prejudicial e patológica quando aparece de forma constante e intensa. Geralmente as pessoas conseguem falar porque estão ansiosas, conseguem verbalizar e nomear a ansiedade.
Já a angústia é um mal-estar relacionado com o presente.  A angústia é sem causa aparente, aparece de forma súbita, descrita como uma sensação de sufocamento, nó na garganta e desespero aonde a maioria das pessoas não sabe identificar a razão desse mal-estar, não sabem dizer e explicar porque sentem isso. Em geral, os pacientes relatam uma agonia mental sem gatilho aparente, atrelada a um sufoco semelhante ao da asma, e uma dor ou compressão no peito. Infelizmente, a maioria dos angustiados só procura ajuda especializada quando a sensação ruim beira o insuportável.
Angústia o afeto que não engana, nos diz Lacan, porque vivemos tentando nos enganar dizendo que tudo está bem, por não queremos saber aquilo que nos acontece, ignoramos, mas a angústia é um sinal que algo não vai bem. Desde seus primeiros trabalhos Freud vinha se preocupando com a questão da angústia. “Como se origina a angústia? Tudo o que sei a respeito é o seguinte: logo se tornou claro que a angústia de meus pacientes neuróticos tinha muito a ver com a libido”
Sigmund Freud, pai da Psicanálise, realizou estudos sobre o problema da angústia. Ele afirmou que vivemos um profundo mal-estar provocado pelo avanço do capitalismo. Contudo, a mais eminente colaboração da Psicanálise para essa temática pode ser percebida na sua análise do aparelho psíquico: um conflito interno entre três instâncias psíquicas fundamentais: inconsciente, superego e consciência.
Na visão psicanalítica temos de um lado as poderosas forças do inconsciente que o impelem à procura da satisfação do desejo. Do outro, os limites impostos pela realidade externa e as normas culturais e morais internalizadas a partir do superego. De um lado, o fechamento narcísico e a agressividade; do outro, a necessidade de ser amado, que leva em direção ao outro e motiva as relações de objeto. A esse conflito entre o inconsciente e o Superego, Freud denominou angústia.  Em última instância, poderíamos dizer que a angústia está de alguma forma ligada ao conflito entre pulsão de vida e pulsão de morte,
Devo ressaltar que a angústia é até certo ponto um elemento próprio da constituição do sujeito do Inconsciente. Isso basta para dizer que ela não é um obstáculo para análise, muito pelo contrário, porque sem angústia, sem sofrimento uma análise não acontece.

Daniela Bittencourt - Psicóloga CRP 12/07184

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Depressão: o mal do século.


         Esse foi o tema do X Simpósio de Neurociência, da Unesc, que aconteceu nos dias 21 e 22/09/2012. Em relação ao título podemos nos perguntar de que século estamos falando? Porque no século XVII na idade Moderna a melancolia, termo anteriormente usado para depressão, era glamourizada e desejada por acreditarem que os gênios eram melancólicos, o mesmo aconteceu na época do romantismo. Foi somente no século XIX que surgiu o termo depressão e o mesmo foi classificado como doença.
Muito se discute sobre a depressão por se tratar da terceira doença mais incapacitante em relação aos anos de vida perdidos, produção para o trabalho e morte. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2030 a depressão será a primeira maior causa de incapacitação para o trabalho no mundo. No Brasil estima-se que 18,4% da população sofre de depressão e segundo o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), cerca de 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do trabalho sofrem com algum transtornos mental, sendo a depressão o principal deles.
Logo estamos falando de um problema de saúde pública e não apenas de consultórios de psiquiatras e psicólogos, pois aproximadamente 17 milhões de brasileiros tiveram ao menos um episódio de depressão durante a vida. Ela também lidera entre as principais causas de suicídio no mundo, assim podemos constatar que a depressão é o mal do século XXI.
A depressão é caracterizada por: humor deprimido, tristeza, vazio, aumento ou diminuição do sono e do apetite, fadiga, cansaço, baixa auto-estima e diminuição do interesse por atividades antes consideradas prazerosa, queixas somáticas, isolamento social, sentimentos de culpa, podendo ser acompanhado de ansiedade e pensamentos suicidas.
De uma forma geral para a psiquiatra a origem da depressão estaria relacionada com questões biológicas, genéticas e bioquímicas, como por exemplo, uma disfunção do cérebro.  Para a psicologia ela seria causada pelo ambiente; as relações com a família e a sociedade e seria fruto das dificuldades sofridas na vida. Muitos autores e psiquiatras vêem hoje a depressão como uma doença epigenética, aonde tanto a genética quanto ao meio social seriam responsáveis pela doença. Já para a psicanálise a depressão é resultado de um conflito psíquico inconsciente. A psicanálise diz que não há participação da realidade externa na formação do sintoma (doença), no caso a depressão, ela seria resultado de conflitos internos entre Id, Ego e Superego e o meio externo seria apenas o fator desencadeante, mas não a causa.
Freud da ênfase que a depressão estaria relacionada á dinâmica do psiquismo. Em seu texto: “Luto e Melancolia” de 1917, ele descreve a melancolia, (forma como era chamada a depressão), como um conflito interno entre as entre três instâncias psíquicas fundamentais: inconsciente, superego e consciência.  A Psicanálise oferece uma visão bem diferente do saber médico convencional, colocando a depressão em outros registros, ela trabalha com um corpo que não é o biológico, mas sim o corpo pulsional, um corpo afetado pelo seu inconsciente.
Sendo assim a psicanálise também não visa em primeiro plano à eliminação do sintoma (doença), uma vez que é através do sintoma que se chega ao inconsciente. A psicanálise convida o sujeito a falar, uma vez que segundo Lacan o inconsciente é estruturado como uma linguagem e é através da linguagem, do tagarelar que se abre a possibilidade de um tratamento que toque no inconsciente e permita a simbolização, para tratar não só a depressão, mas também o mal - estar que é próprio da constituição do ser humano, no qual nenhum sujeito escapa.

Daniela Bittencourt – Psicóloga CRP 12/07184