quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Angústia, o afeto que não engana



Angústia vem do latim que quer dizer estreitamento, apertamento. Chamamos de angústia a forte sensação caracterizada pelo sufocamento, peito apertão, insegurança, falta de humor, ressentimento e dor. Muitas pessoas confundem angústia e ansiedade, apesar existir diferenças entre elas.
Ansiedade é uma apreensão exagerada em relação ao futuro, uma pré – ocupação, que antecede momentos de perigo real ou imaginário, acompanhado de sensações corporais como batimentos cardíacos acelerado, dor no estomago, tremores. A ansiedade é até certo ponto normal e adaptativa, mas pode tornar-se prejudicial e patológica quando aparece de forma constante e intensa. Geralmente as pessoas conseguem falar porque estão ansiosas, conseguem verbalizar e nomear a ansiedade.
Já a angústia é um mal-estar relacionado com o presente.  A angústia é sem causa aparente, aparece de forma súbita, descrita como uma sensação de sufocamento, nó na garganta e desespero aonde a maioria das pessoas não sabe identificar a razão desse mal-estar, não sabem dizer e explicar porque sentem isso. Em geral, os pacientes relatam uma agonia mental sem gatilho aparente, atrelada a um sufoco semelhante ao da asma, e uma dor ou compressão no peito. Infelizmente, a maioria dos angustiados só procura ajuda especializada quando a sensação ruim beira o insuportável.
Angústia o afeto que não engana, nos diz Lacan, porque vivemos tentando nos enganar dizendo que tudo está bem, por não queremos saber aquilo que nos acontece, ignoramos, mas a angústia é um sinal que algo não vai bem. Desde seus primeiros trabalhos Freud vinha se preocupando com a questão da angústia. “Como se origina a angústia? Tudo o que sei a respeito é o seguinte: logo se tornou claro que a angústia de meus pacientes neuróticos tinha muito a ver com a libido”
Sigmund Freud, pai da Psicanálise, realizou estudos sobre o problema da angústia. Ele afirmou que vivemos um profundo mal-estar provocado pelo avanço do capitalismo. Contudo, a mais eminente colaboração da Psicanálise para essa temática pode ser percebida na sua análise do aparelho psíquico: um conflito interno entre três instâncias psíquicas fundamentais: inconsciente, superego e consciência.
Na visão psicanalítica temos de um lado as poderosas forças do inconsciente que o impelem à procura da satisfação do desejo. Do outro, os limites impostos pela realidade externa e as normas culturais e morais internalizadas a partir do superego. De um lado, o fechamento narcísico e a agressividade; do outro, a necessidade de ser amado, que leva em direção ao outro e motiva as relações de objeto. A esse conflito entre o inconsciente e o Superego, Freud denominou angústia.  Em última instância, poderíamos dizer que a angústia está de alguma forma ligada ao conflito entre pulsão de vida e pulsão de morte,
Devo ressaltar que a angústia é até certo ponto um elemento próprio da constituição do sujeito do Inconsciente. Isso basta para dizer que ela não é um obstáculo para análise, muito pelo contrário, porque sem angústia, sem sofrimento uma análise não acontece.

Daniela Bittencourt - Psicóloga CRP 12/07184

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Depressão: o mal do século.


         Esse foi o tema do X Simpósio de Neurociência, da Unesc, que aconteceu nos dias 21 e 22/09/2012. Em relação ao título podemos nos perguntar de que século estamos falando? Porque no século XVII na idade Moderna a melancolia, termo anteriormente usado para depressão, era glamourizada e desejada por acreditarem que os gênios eram melancólicos, o mesmo aconteceu na época do romantismo. Foi somente no século XIX que surgiu o termo depressão e o mesmo foi classificado como doença.
Muito se discute sobre a depressão por se tratar da terceira doença mais incapacitante em relação aos anos de vida perdidos, produção para o trabalho e morte. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2030 a depressão será a primeira maior causa de incapacitação para o trabalho no mundo. No Brasil estima-se que 18,4% da população sofre de depressão e segundo o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), cerca de 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do trabalho sofrem com algum transtornos mental, sendo a depressão o principal deles.
Logo estamos falando de um problema de saúde pública e não apenas de consultórios de psiquiatras e psicólogos, pois aproximadamente 17 milhões de brasileiros tiveram ao menos um episódio de depressão durante a vida. Ela também lidera entre as principais causas de suicídio no mundo, assim podemos constatar que a depressão é o mal do século XXI.
A depressão é caracterizada por: humor deprimido, tristeza, vazio, aumento ou diminuição do sono e do apetite, fadiga, cansaço, baixa auto-estima e diminuição do interesse por atividades antes consideradas prazerosa, queixas somáticas, isolamento social, sentimentos de culpa, podendo ser acompanhado de ansiedade e pensamentos suicidas.
De uma forma geral para a psiquiatra a origem da depressão estaria relacionada com questões biológicas, genéticas e bioquímicas, como por exemplo, uma disfunção do cérebro.  Para a psicologia ela seria causada pelo ambiente; as relações com a família e a sociedade e seria fruto das dificuldades sofridas na vida. Muitos autores e psiquiatras vêem hoje a depressão como uma doença epigenética, aonde tanto a genética quanto ao meio social seriam responsáveis pela doença. Já para a psicanálise a depressão é resultado de um conflito psíquico inconsciente. A psicanálise diz que não há participação da realidade externa na formação do sintoma (doença), no caso a depressão, ela seria resultado de conflitos internos entre Id, Ego e Superego e o meio externo seria apenas o fator desencadeante, mas não a causa.
Freud da ênfase que a depressão estaria relacionada á dinâmica do psiquismo. Em seu texto: “Luto e Melancolia” de 1917, ele descreve a melancolia, (forma como era chamada a depressão), como um conflito interno entre as entre três instâncias psíquicas fundamentais: inconsciente, superego e consciência.  A Psicanálise oferece uma visão bem diferente do saber médico convencional, colocando a depressão em outros registros, ela trabalha com um corpo que não é o biológico, mas sim o corpo pulsional, um corpo afetado pelo seu inconsciente.
Sendo assim a psicanálise também não visa em primeiro plano à eliminação do sintoma (doença), uma vez que é através do sintoma que se chega ao inconsciente. A psicanálise convida o sujeito a falar, uma vez que segundo Lacan o inconsciente é estruturado como uma linguagem e é através da linguagem, do tagarelar que se abre a possibilidade de um tratamento que toque no inconsciente e permita a simbolização, para tratar não só a depressão, mas também o mal - estar que é próprio da constituição do ser humano, no qual nenhum sujeito escapa.

Daniela Bittencourt – Psicóloga CRP 12/07184