segunda-feira, 1 de abril de 2013

Autismo e Psicanálise



    

    

Dia 02.04 é o dia da conscientização do autismo, por isso resolvi escrever sobre o autismo e a psicanálise. O autismo é uma síndrome que afeta a capacidade afetiva, a comunicação e a linguagem, e é considerado pela neurologia e a psiquiatria de origens puramente orgânicas e genéticas. Foi descrito pela primeira vez em 1943, pelo médico austríaco Leo Kanner que definiu a síndrome como um quadro grave que atinge a criança por volta dos dois anos de vida. 
O autismo é considerado um transtorno global do desenvolvimento marcado por três características fundamentais: inabilidade de interagir socialmente, dificuldade no domínio da linguagem para comunicar-se e padrão de comportamento restritivo e repetitivo.
O diagnóstico é feito por volta dos dois ou três anos de idade e é essencialmente clínico, através dos sintomas e relatos dos pais e da avaliação do comportamento da criança. Hoje já se sabe que os sintomas podem aparecer nos primeiros meses de vida, mas infelizmente na maioria dos casos não são identificados precocemente.
O autismo é há muito tempo objeto de estudo da psicanálise, mas o que a psicanálise pode fazer diante de uma criança com esse diagnóstico? Enquanto tratarmos a doença como puramente genética ou biológica estamos fadados a pensar não há muito a fazer em relação a essa síndrome e os próprios pais acabam perdendo as esperanças de melhora de seus filhos. Mas a psicanálise trás um outro olhar sobre essa questão quando pensa o autismo,  a partir de uma falha na linguagem, no campo do simbólico, uma falência da operação significante, algo que acontece no início da constituição psíquica do bebê.
Aprendemos com Alfredo Jerusalinsky, que o nascimento de um filho sadio não é suficiente, apesar de sua integridade neurofisiológica, para garantir a constituição nele de um sujeito psíquico. Em alguns casos quando essa constituição está debilitada, ou muito precária, é necessário uma intervenção que possibilite esse bebê a ter acesso ao mundo psíquico, ao simbólico e a linguagem.
 É muito comum em nossa cultura a idéia de que crianças muito pequenas não podem apresentar sofrimento psíquico, porque afinal quais problemas teriam um bebê? Mas se pensarmos que Sigmund Freud atribuiu uma importância muito grande aos primeiros anos de vida porque é nesse período aonde acontece toda a construção do aparelho psíquico.
 Outra questão muito discutida na psicanálise é: será que conseguimos prevenir o autismo?  O que hoje se sabe através de pesquisas é que podemos identificar alguns sinais de riscos de desenvolvimento psíquico precocemente. Quando esses sinais são descobertos a tempo, com apenas alguns meses de vida, pode-se fazer um trabalho psíquico, através de uma intervenção precoce a fim de mudar o destino dessa criança. Esses sinais são: o bebê não interage com a mãe, nem com o ambiente, não responde aos chamados maternos, não olha nos olhos, não procura o olhar da mãe, não diferencia o colo da mãe das outras pessoas e parece preferir gostar de ficar sozinho.
 Não se pode acreditar que com o tempo o bebê vai apresentar melhoras, vai interagir melhor ao ambiente, e que ainda é muito pequeno por isso não responde aos chamados maternos. O tempo não cura ninguém, muito pelo contrário, nesses casos é preciso haver um tratamento adequado prontamente antes do diagnóstico de autismo, isto é, nos primeiros meses de vida.
 Infelizmente as pessoas não percebem os sinais de riscos precoces e não estão preparadas para identificá-los logo no início. Deve-se procurar por um tratamento quando aparecerem os primeiros sinais de riscos de desenvolvimento psíquico e ele devem ser feito por um especialista que trabalhe com bebês, porque muito pode ser feito por seu filho, ainda nos primeiros meses de vida a fim de possibilitar para que essa criança tenha uma nova direção quanto a sua constituição psíquica.         
 Receber um diagnóstico de autismo não é fácil para os pais. Mas será que depois do diagnóstico nada pode ser feito? Será que essa criança está fadada para sempre a essa condição psíquica? Não há nenhum tratamento que possibilite uma melhora na vida dessa criança, adolescentes ou adultos para que possam estabelecer laços sociais, ter acesso a linguagem e serem sujeitos do desejo, que respondem por seus próprios nomes e vidas?
  A Psicanálise nos diz que sim, que há muito que se fazer e que o tratamento é longo, mas produz bons resultados.  Geralmente ele é feito com a presença da mãe e do filho e trabalha o tempo todo unicamente com palavras. Mas o que se pode esperar desse tratamento? O objetivo dele é produzir uma mudança interna, sendo que essa mudança vai permitir melhorar a interação com o meio em que vive, não é um tratamento focado na adaptação da criança ao ambiente, mas sim na constituição do mundo psíquico.

Daniela Bittencourt – Psicóloga CRP 12/07184


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