terça-feira, 9 de abril de 2013

Os sonhos e a vida psíquica



Seria um erro considerar que os sonhos não têm importância nenhuma e dizer que o mesmo não tem sentido. Para a Psicanálise, os sonhos dizem respeito á vida psíquica do sujeito. Os sonhos têm um sentido por mais que aparece desconexo e absurdo, mas ele é pleno de significações inconscientes. Os sonhos são a via régia para o inconsciente, ou seja, o inconsciente se manifesta através dos sonhos.
Freud interpretou os sonhos dos seus pacientes e para ele os sonhos são a realização de um desejo inconsciente e infantil. No sonho o desejo se apresenta se mostra, mas não se realiza. Mesmo quando os sonhos são desprazerosas, ou sonhos de angústia, ainda assim se trata de uma manifestação do desejo, lembrando que os sonhos sempre vêm distorcidos e fragmentados, e que esse desejo se trata de um desejo infantil.
Os sonhos têm um sentido para a psicanálise, um sentido inconsciente, o sonho que o sujeito está contando tem uma ligação íntima com a sua vida. O sonho é como a análise, é um a um, porque o inconsciente é singular e por isso é impossível fazermos interpretações que sirvam para todos, como no caso de almanaque dos sonhos, isso seria para a psicanálise uma interpretação selvagem. Às vezes se leva uma análise inteira para interpretar um sonho, em outras palavras a análise de um sujeito pode estar condensada em um único sonho.
O sonho é uma manifestação do inconsciente, o sonho fala sobre o sonhador. Porque então se sonha com coisas que aconteceram no dia anterior? Porque o sonho utiliza-se dos restos diurnos; acontecimentos, pensamentos e preocupações para se ligar a um conteúdo inconsciente reprimido. Dessa forma entender o sonho não é um processo assim tão fácil porque os sonhos aparecem distorcidos e sem sentido na consciencia, o que não nos permite perceber seu real significado. No sonho encontramos o processo de deslocamento e condensação, ou seja, uma idéia ou uma imagem é deslocada para outra, ou condensada em várias, por isso é difícil compreender os sonhos, uma vez que esses processos acontecem  porque o material inconsciente não consegue passar para a consciência em seu estado bruto, mas somente de forma disfarçada.
O sonho mostra uma coisa e muitas vezes quer dizer outra. Do ponto de vista do inconsciente, sempre quer dizer outra coisa porque o desejo é sempre conflitante e o sujeito para a psicanálise é sempre sujeito dividido, entre sua consciência e seu inconsciente. No sonho o sonhador é sempre o protagonista, os sonhos são narcisos, aonde a pessoa que sonhou é o autor principal. Quanto mais distorcido o conteúdo do sonho, mais forte ele é no inconsciente, mais forte é a sua carga libidinal.
Não nos preocupamos com aquilo que os sonhos parecem dizer, porque esse parece dizer não é o que nos interessa, ou seja, não é o conteúdo inconsciente. O analista vai à busca de sentido inconsciente do sonho, a partir de toda história de vida do sujeito, mas quem atribui o sentido daquele sonho é o próprio sonhador num processo de análise. Vejamos bem, fora de análise às resistências não nos permitem atribuir o sentido inconsciente do sonho, mas apenas o consciente, porque ao inconsciente não temos acesso e o trabalho do analista é justamente o de ouvir o inconsciente.
E por que o inconsciente se manifesta nos sonhos e não se manifesta enquanto estamos acordados? Porque é durante o sono que as resistências diminuem e o material inconsciente consegue passar para á consciência, mas só de forma transformada. O inconsciente se manifesta também durante o dia, mas de outra forma: através do sintoma, atos falhos, chistes e esquecimentos.
Os sonhos são na verdade uma estrada para o conhecimento do inconsciente, e para a psicanálise o importante não é o estudo aprofundado dos sonhos, mas sim o conteúdo inconsciente nos sonhos, uma vez que através da interpretação dos sonhos pode-se ter acesso ao inconsciente, sendo que a interpretação do sonho é a via real para o conhecimento das atividades da vida psíquica.

Daniela Bittencourt - Psicóloga  CRP 12/07184



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