terça-feira, 9 de outubro de 2012

Depressão: o mal do século.


         Esse foi o tema do X Simpósio de Neurociência, da Unesc, que aconteceu nos dias 21 e 22/09/2012. Em relação ao título podemos nos perguntar de que século estamos falando? Porque no século XVII na idade Moderna a melancolia, termo anteriormente usado para depressão, era glamourizada e desejada por acreditarem que os gênios eram melancólicos, o mesmo aconteceu na época do romantismo. Foi somente no século XIX que surgiu o termo depressão e o mesmo foi classificado como doença.
Muito se discute sobre a depressão por se tratar da terceira doença mais incapacitante em relação aos anos de vida perdidos, produção para o trabalho e morte. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2030 a depressão será a primeira maior causa de incapacitação para o trabalho no mundo. No Brasil estima-se que 18,4% da população sofre de depressão e segundo o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), cerca de 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do trabalho sofrem com algum transtornos mental, sendo a depressão o principal deles.
Logo estamos falando de um problema de saúde pública e não apenas de consultórios de psiquiatras e psicólogos, pois aproximadamente 17 milhões de brasileiros tiveram ao menos um episódio de depressão durante a vida. Ela também lidera entre as principais causas de suicídio no mundo, assim podemos constatar que a depressão é o mal do século XXI.
A depressão é caracterizada por: humor deprimido, tristeza, vazio, aumento ou diminuição do sono e do apetite, fadiga, cansaço, baixa auto-estima e diminuição do interesse por atividades antes consideradas prazerosa, queixas somáticas, isolamento social, sentimentos de culpa, podendo ser acompanhado de ansiedade e pensamentos suicidas.
De uma forma geral para a psiquiatra a origem da depressão estaria relacionada com questões biológicas, genéticas e bioquímicas, como por exemplo, uma disfunção do cérebro.  Para a psicologia ela seria causada pelo ambiente; as relações com a família e a sociedade e seria fruto das dificuldades sofridas na vida. Muitos autores e psiquiatras vêem hoje a depressão como uma doença epigenética, aonde tanto a genética quanto ao meio social seriam responsáveis pela doença. Já para a psicanálise a depressão é resultado de um conflito psíquico inconsciente. A psicanálise diz que não há participação da realidade externa na formação do sintoma (doença), no caso a depressão, ela seria resultado de conflitos internos entre Id, Ego e Superego e o meio externo seria apenas o fator desencadeante, mas não a causa.
Freud da ênfase que a depressão estaria relacionada á dinâmica do psiquismo. Em seu texto: “Luto e Melancolia” de 1917, ele descreve a melancolia, (forma como era chamada a depressão), como um conflito interno entre as entre três instâncias psíquicas fundamentais: inconsciente, superego e consciência.  A Psicanálise oferece uma visão bem diferente do saber médico convencional, colocando a depressão em outros registros, ela trabalha com um corpo que não é o biológico, mas sim o corpo pulsional, um corpo afetado pelo seu inconsciente.
Sendo assim a psicanálise também não visa em primeiro plano à eliminação do sintoma (doença), uma vez que é através do sintoma que se chega ao inconsciente. A psicanálise convida o sujeito a falar, uma vez que segundo Lacan o inconsciente é estruturado como uma linguagem e é através da linguagem, do tagarelar que se abre a possibilidade de um tratamento que toque no inconsciente e permita a simbolização, para tratar não só a depressão, mas também o mal - estar que é próprio da constituição do ser humano, no qual nenhum sujeito escapa.

Daniela Bittencourt – Psicóloga CRP 12/07184

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