Que todas
as pessoas, quando bebês têm como objeto sexual o seu próprio corpo, isto é: a
libido está investida no próprio corpo e ali ela se satisfaz, a isso Freud
denominou de narcisismo primário. Libido é a energia psíquica. O eu é antes de
tudo um eu corporal, um corpo que sente prazer. Logo pelo
corpo não ser completo e por faltar alguma coisa, a pulsão sexual (libido)
deixa de ser investida no próprio corpo e passa a ser investida em um objeto
fora dele, na tentativa de buscar a completude. O primeiro objeto de amor, fora
do sujeito, é a mãe, ou substituto dela, tanto para meninos quanto para
meninas.
A mãe é o
primeiro objeto de amor, porque ela é a primeira pessoa que a criança tem
contato e justamente por isso é nela que o bebê vai investir a sua libido. Nos
primeiros meses de vida a criança se vê como se ele e a mãe fossem uma só, ele
não consegue diferenciar o que é ele e o que é a mãe.
Dos três
aos cinco anos de vida, acontece o Complexo de Édipo. Que seria o ato de apaixonar-se
pelo genitor do sexo oposto, isso é normal e acontece com todas as pessoas. Nesse
momento a menina investe sua libido no pai e o menino na mãe. Depois todo esse
processo é reprimido no inconsciente, por isso que não conseguimos lembrar dos acontecimentos da infância.
Na vida
adulta existem dois modos de escolha objetal amorosa que é destacado por Freud
como passíveis de eleição pelo sujeito: anaclítico e narcisista. No modelo anaclítico:
ama-se segundo o modelo do amor recebido na relação com as figuras parentais,
aquela que alimenta (mãe) ou aquele que protege (pai). Neste tipo de amor, o
objeto é idealizado e perfeito. O sujeito se apaixona por pessoas que são
substitutos paternos, por aquele que mais se aproxima com a mãe ou com o pai
que este teve na infância.
Já no
modelo narcisista ama-se segundo o que o sujeito é, foi, gostaria de ser, ou
alguém que foi parte de si mesmo, ou seja, procura-se a si mesmo como objeto
amoroso em outras pessoas. Porém isso não é nem um pouco fácil de perceber
porque é um processo inconsciente.
A paixão
se baseia nas condições de amor da infância, de forma que tudo aquilo que puder
realizar essa condição infantil de amor, será idealizado. Por isso que se
apaixonar não é um ato tão livre assim, não dá para escolher por quem vai se
apaixonar.
Para a
Psicanálise o ser humano não é livre em todas as suas escolhas, porque existe
nele um determinismo psíquico, ele é determinado pelas suas experiências
infantis, de prazer e desprazer. As escolhas passam pelo nível do desejo e este
é uma construção infantil, aonde o sujeito tampouco sabe, por isso muitas vezes
se deseja o que não se quer o que não é certo, o errado, o que vai fazer mal e
trazer dor.
Segundo
Freud quem quer que negligencie a análise infantil está fadado a cair nos mais
desastrosos erros. E o trabalho só merece ser reconhecido como Psicanálise quando
consegue remover a amnésia que oculta do adulto o seu conhecimento da sua
infância.
Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica.
Um comentário:
Texto excelente! Trouxe com simplicidade um tema complexo e de difícil entendimento. Parabéns. Me ajudou bastante.
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