domingo, 21 de outubro de 2012

O que a Psicanálise tem a dizer sobre o amor?



Que todas as pessoas, quando bebês têm como objeto sexual o seu próprio corpo, isto é: a libido está investida no próprio corpo e ali ela se satisfaz, a isso Freud denominou de narcisismo primário. Libido é a energia psíquica. O eu é antes de tudo um eu corporal, um corpo que sente prazer. Logo pelo corpo não ser completo e por faltar alguma coisa, a pulsão sexual (libido) deixa de ser investida no próprio corpo e passa a ser investida em um objeto fora dele, na tentativa de buscar a completude. O primeiro objeto de amor, fora do sujeito, é a mãe, ou substituto dela, tanto para meninos quanto para meninas.
A mãe é o primeiro objeto de amor, porque ela é a primeira pessoa que a criança tem contato e justamente por isso é nela que o bebê vai investir a sua libido. Nos primeiros meses de vida a criança se vê como se ele e a mãe fossem uma só, ele não consegue diferenciar o que é ele e o que é a mãe.
Dos três aos cinco anos de vida, acontece o Complexo de Édipo. Que seria o ato de apaixonar-se pelo genitor do sexo oposto, isso é normal e acontece com todas as pessoas. Nesse momento a menina investe sua libido no pai e o menino na mãe. Depois todo esse processo é reprimido no inconsciente, por isso que não conseguimos lembrar dos acontecimentos da infância.
Na vida adulta existem dois modos de escolha objetal amorosa que é destacado por Freud como passíveis de eleição pelo sujeito: anaclítico e narcisista. No modelo anaclítico: ama-se segundo o modelo do amor recebido na relação com as figuras parentais, aquela que alimenta (mãe) ou aquele que protege (pai). Neste tipo de amor, o objeto é idealizado e perfeito. O sujeito se apaixona por pessoas que são substitutos paternos, por aquele que mais se aproxima com a mãe ou com o pai que este teve na infância.
Já no modelo narcisista ama-se segundo o que o sujeito é, foi, gostaria de ser, ou alguém que foi parte de si mesmo, ou seja, procura-se a si mesmo como objeto amoroso em outras pessoas. Porém isso não é nem um pouco fácil de perceber porque é um processo inconsciente.
A paixão se baseia nas condições de amor da infância, de forma que tudo aquilo que puder realizar essa condição infantil de amor, será idealizado. Por isso que se apaixonar não é um ato tão livre assim, não dá para escolher por quem vai se apaixonar.
Para a Psicanálise o ser humano não é livre em todas as suas escolhas, porque existe nele um determinismo psíquico, ele é determinado pelas suas experiências infantis, de prazer e desprazer. As escolhas passam pelo nível do desejo e este é uma construção infantil, aonde o sujeito tampouco sabe, por isso muitas vezes se deseja o que não se quer o que não é certo, o errado, o que vai fazer mal e trazer dor.
Segundo Freud quem quer que negligencie a análise infantil está fadado a cair nos mais desastrosos erros. E o trabalho só merece ser reconhecido como Psicanálise quando consegue remover a amnésia que oculta do adulto o seu conhecimento da sua infância.

Daniela Bittencourt - Psicóloga Clínica.


Um comentário:

Vlademir Lins disse...

Texto excelente! Trouxe com simplicidade um tema complexo e de difícil entendimento. Parabéns. Me ajudou bastante.