A
gestação é um momento muito importante na vida de uma mulher. Mudanças
corporais, hormonais, anseios e desejos que
fazem com que cada mulher descreva a gestação de maneira única, a partir de sua
história de vida.
É
como se pudéssemos dizer que ocorre três gestações ao mesmo tempo, ou seja,
três mudanças importantes e significativas: o desenvolvimento físico do feto no
útero, o nascimento da função materna no psiquismo da mulher e a formação do
bebê no imaginário da mãe.
Em
geral, as mulheres quando confirmam a gravidez têm sentimentos ambivalentes
que, muitas vezes, geram-lhe conflitos, pois são interpretados como rejeição da
gravidez e, conseqüentemente, do bebê. Esta ambivalência estaria relacionada,
em grande parte, a um movimento subjetivo de mudança de posição – de filha para
mãe. Nesse sentido, podemos pensar que um luto da posição infantil se faz
necessário, o que possibilita o acesso ao lugar materno a partir das
identificações deixadas pela sua própria história de vida.
As
mudanças na gravidez não são apenas no corpo, mas também no psiquismo, a
ansiedade e a insegurança podem surgir frente às novas responsabilidades e
preocupações com a chegada do bebê, elas nada mais são que resultados de medos
e fantasias, porque na gravidez a mulher revive a relação com sua mãe, revive
suas experiências infantis.
Diversos autores têm enfatizado que a relação
da mãe com o bebê existe desde antes da gravidez, nas fantasias da mulher
relacionadas com a possibilidade de ter um filho. O bebê já existe no
imaginário da mãe, antes mesmo de nascer, é comum ouvir as grávidas falarem
sobre seus bebês: ele vai ser muito inteligente, vai puxar pai, será vai ter
olhos azuis? Enfim esse bebê já existe no discurso da mãe e do pai, ele já
ocupa um lugar na família. Muitas vezes
ele é idealizado, como aquele que vem para resolver os problemas do casal ou para
preencher o vazio da mãe, o que se deve tomar cuidado, para não colocar a
responsabilidade e frustrações dos pais no bebê que acabou de nascer.
É
fundamental que o processo de imaginar o bebê se inicie assim que a mulher
confirme a sua gravidez, porque é isso que possibilita á mãe entrar em relação
com seu filho a partir de sua concepção. Se isso ocorre, a criança estará
inserida no mesmo mundo simbólico dos pais e fará parte dele.
Muitas
mães não se dão conta de que o bebê que está sendo gestado será um novo
sujeito, com características próprias a serem descobertas. É devido essa futura
mãe poder imaginar seu bebê, suas características, seus gostos, que permitirá
que ela invista libidinalmente nele, reconhecendo-o como um corpo separado do
dela e como um ser separado dela, com vontades e desejos próprios que vão muito
além das necessidades biológicas de fome, sono e frio.
Contudo,
quando o bebê nasce, a mãe precisa manter algo do bebê imaginado até então, mas
precisa fazer algumas reestruturações de acordo com as características próprias
e pessoais do seu filho.
O bebê imaginado é a personificação dos
desejos e fantasias maternas, e são estes desejos e fantasias que farão com que
ela deposite sua libido (energia psíquica) nesse corpo, tornando-o um sujeito
digno de uma história pessoal e particular. Esse processo de investimento
libidinal é de extrema importância para a constituição desse novo ser que há
por vir, ou seja, a mãe precisa investir esse bebê de atenção, carinhos,
toques, palavras, e de amor.
O
modo subjetivo como a mãe vai se posicionar frente à gravidez e frente a essa produção
imaginária de seu bebê oferece pistas para os profissionais que trabalham com
gestação e primeira infância poderem pensar em formas de intervenção precoce
visando prevenção e saúde psíquica desse bebê que acabou de nascer.
Daniela Bittencourt - Psicóloga - CRP: 12/07184
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