terça-feira, 11 de setembro de 2012

Gestação: anseios e desejos


A gestação é um momento muito importante na vida de uma mulher. Mudanças corporais, hormonais, anseios e desejos que fazem com que cada mulher descreva a gestação de maneira única, a partir de sua história de vida.
É como se pudéssemos dizer que ocorre três gestações ao mesmo tempo, ou seja, três mudanças importantes e significativas: o desenvolvimento físico do feto no útero, o nascimento da função materna no psiquismo da mulher e a formação do bebê no imaginário da mãe.
Em geral, as mulheres quando confirmam a gravidez têm sentimentos ambivalentes que, muitas vezes, geram-lhe conflitos, pois são interpretados como rejeição da gravidez e, conseqüentemente, do bebê. Esta ambivalência estaria relacionada, em grande parte, a um movimento subjetivo de mudança de posição – de filha para mãe. Nesse sentido, podemos pensar que um luto da posição infantil se faz necessário, o que possibilita o acesso ao lugar materno a partir das identificações deixadas pela sua própria história de vida.
As mudanças na gravidez não são apenas no corpo, mas também no psiquismo, a ansiedade e a insegurança podem surgir frente às novas responsabilidades e preocupações com a chegada do bebê, elas nada mais são que resultados de medos e fantasias, porque na gravidez a mulher revive a relação com sua mãe, revive suas experiências infantis.
 Diversos autores têm enfatizado que a relação da mãe com o bebê existe desde antes da gravidez, nas fantasias da mulher relacionadas com a possibilidade de ter um filho. O bebê já existe no imaginário da mãe, antes mesmo de nascer, é comum ouvir as grávidas falarem sobre seus bebês: ele vai ser muito inteligente, vai puxar pai, será vai ter olhos azuis? Enfim esse bebê já existe no discurso da mãe e do pai, ele já ocupa um lugar na família.  Muitas vezes ele é idealizado, como aquele que vem para resolver os problemas do casal ou para preencher o vazio da mãe, o que se deve tomar cuidado, para não colocar a responsabilidade e frustrações dos pais no bebê que acabou de nascer.
É fundamental que o processo de imaginar o bebê se inicie assim que a mulher confirme a sua gravidez, porque é isso que possibilita á mãe entrar em relação com seu filho a partir de sua concepção. Se isso ocorre, a criança estará inserida no mesmo mundo simbólico dos pais e fará parte dele.
Muitas mães não se dão conta de que o bebê que está sendo gestado será um novo sujeito, com características próprias a serem descobertas. É devido essa futura mãe poder imaginar seu bebê, suas características, seus gostos, que permitirá que ela invista libidinalmente nele, reconhecendo-o como um corpo separado do dela e como um ser separado dela, com vontades e desejos próprios que vão muito além das necessidades biológicas de fome, sono e frio.
Contudo, quando o bebê nasce, a mãe precisa manter algo do bebê imaginado até então, mas precisa fazer algumas reestruturações de acordo com as características próprias e pessoais do seu filho.
 O bebê imaginado é a personificação dos desejos e fantasias maternas, e são estes desejos e fantasias que farão com que ela deposite sua libido (energia psíquica) nesse corpo, tornando-o um sujeito digno de uma história pessoal e particular. Esse processo de investimento libidinal é de extrema importância para a constituição desse novo ser que há por vir, ou seja, a mãe precisa investir esse bebê de atenção, carinhos, toques, palavras, e de amor.
O modo subjetivo como a mãe vai se posicionar frente à gravidez e frente a essa produção imaginária de seu bebê oferece pistas para os profissionais que trabalham com gestação e primeira infância poderem pensar em formas de intervenção precoce visando prevenção e saúde psíquica desse bebê que acabou de nascer.

Daniela Bittencourt - Psicóloga -  CRP: 12/07184



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