Há um tempo li na
revista Veja uma reportagem da escritora Lya Luft com o título: Erotismo
Feminino, mais uma receita? Compartilho uma parte do texto que chamou minha
atenção com vocês: “Mais receitas aparecem, mais obrigações: nisso como tantas
coisas somos escravos do “ter de”. A gente tem que ser rico, ser famoso, ter os
melhores cartões de crédito, comprar muito, viajar muito, conhecer resorts, ser
bonito, jovem, magro, atlético, conhecer comidas sofisticadas, mas estar de
dieta, apreciar bons vinhos, mas beber só água (sem gás), ser saudável, mas
entupir-se de remédios,enfim: viver está realmente mais complicado.”
A autora desse
texto faz uma crítica ao erotismo feminino, aonde “temos de”, tanto homens e
mulheres sermos heróis da sexualidade, apelar para práticas de erotismo forçado
enquanto isso se esquece de que a sexualidade é algo natural. Temos que ser bem
resolvidos sexualmente, profissionalmente, ter filhos educados e inteligentes,
saber falar outra língua, estar sempre bem arrumado, e de preferência na moda,
ter carro do ano e ser financeiramente bem sucedido e possuir inteligência emocional.
É preciso ser também culto, inteligente, cavalheiro, romântico, bonito, gentil..
Será que existe
receita de bolo para como devemos viver? Temos que andar conforme a música?
Seguir regras e padrões? Será que somos todos iguais e temos que desejar as
mesmas coisas? Quem foi que disso que precisamos disso tudo para ser feliz? Aliás,
quem foi que disse que a felicidade está no “ter de”. É muito comum as pessoas
procurarem a felicidade e porque não dizer a satisfação em objetos que a
cultura oferece aonde se cria uma demanda infinita de querer sempre mais e mais,
em função de um ideal cultural capitalista de “ter de” aonde muitas vezes o
resultado disso tudo é apenas a frustração, por não conseguir atingir esse
ideal, muito valorizado e ao mesmo tempo muito difícil de alcançar.
Todos esses “ter de”,
me faz pensar nessa sociedade que não consegue conviver com a falta e o vazio,
e precisa ter tudo ao mesmo tempo, precisa se encher, se completar, se entupir
literalmente: de comida, de compras, de bebidas, de drogas, de objetos variados
para não se deparar com o vazio, com a solidão, ou seja, consigo mesmo. É
indispensável ter tudo, ser tudo, é inadmissível faltar alguma coisa.
É quase uma
obrigação sermos felizes o tempo todo, não há lugar para a tristeza em nossa
sociedade, não é permitido chorar, se você está triste então está doente. Não se
pode mostar as fragilidades, nem os problemas, precisa-se aparentar estar
sempre bem, precisa-se negligenciar a angústia e o sofrimento. Temos que sermos
perfeitos? Temos que ser super homens e super mulheres?Talvez enquanto
desejarmos sermos super homens e super mulheres não teremos tempo para sermos
apenas seres humanos.
Daniela
Bittencourt – Psicóloga 12/07184.
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