quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Erotismo Feminino, mais uma receita?



Há um tempo li na revista Veja uma reportagem da escritora Lya Luft com o título: Erotismo Feminino, mais uma receita? Compartilho uma parte do texto que chamou minha atenção com vocês: “Mais receitas aparecem, mais obrigações: nisso como tantas coisas somos escravos do “ter de”. A gente tem que ser rico, ser famoso, ter os melhores cartões de crédito, comprar muito, viajar muito, conhecer resorts, ser bonito, jovem, magro, atlético, conhecer comidas sofisticadas, mas estar de dieta, apreciar bons vinhos, mas beber só água (sem gás), ser saudável, mas entupir-se de remédios,enfim: viver está realmente mais complicado.”
A autora desse texto faz uma crítica ao erotismo feminino, aonde “temos de”, tanto homens e mulheres sermos heróis da sexualidade, apelar para práticas de erotismo forçado enquanto isso se esquece de que a sexualidade é algo natural. Temos que ser bem resolvidos sexualmente, profissionalmente, ter filhos educados e inteligentes, saber falar outra língua, estar sempre bem arrumado, e de preferência na moda, ter carro do ano e ser financeiramente bem sucedido e possuir inteligência emocional. É preciso ser também culto, inteligente, cavalheiro, romântico, bonito, gentil..
Será que existe receita de bolo para como devemos viver? Temos que andar conforme a música? Seguir regras e padrões? Será que somos todos iguais e temos que desejar as mesmas coisas? Quem foi que disso que precisamos disso tudo para ser feliz? Aliás, quem foi que disse que a felicidade está no “ter de”. É muito comum as pessoas procurarem a felicidade e porque não dizer a satisfação em objetos que a cultura oferece aonde se cria uma demanda infinita de querer sempre mais e mais, em função de um ideal cultural capitalista de “ter de” aonde muitas vezes o resultado disso tudo é apenas a frustração, por não conseguir atingir esse ideal, muito valorizado e ao mesmo tempo muito difícil de alcançar.
Todos esses “ter de”, me faz pensar nessa sociedade que não consegue conviver com a falta e o vazio, e precisa ter tudo ao mesmo tempo, precisa se encher, se completar, se entupir literalmente: de comida, de compras, de bebidas, de drogas, de objetos variados para não se deparar com o vazio, com a solidão, ou seja, consigo mesmo. É indispensável ter tudo, ser tudo, é inadmissível faltar alguma coisa.
É quase uma obrigação sermos felizes o tempo todo, não há lugar para a tristeza em nossa sociedade, não é permitido chorar, se você está triste então está doente. Não se pode mostar as fragilidades, nem os problemas, precisa-se aparentar estar sempre bem, precisa-se negligenciar a angústia e o sofrimento. Temos que sermos perfeitos? Temos que ser super homens e super mulheres?Talvez enquanto desejarmos sermos super homens e super mulheres não teremos tempo para sermos apenas seres humanos.

Daniela Bittencourt – Psicóloga 12/07184.


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Somos o que pensamos?



Você já deve ter ouvido a expressão: somos o que pensamos, assim como somos o que comemos, somos o que compramos, somos o que fazemos. Será que a comida, as compras, o trabalho podem definir o ser humano? Há os que defendem que somos nossos pensamentos, por isso manter bons pensamentos, outros afirmam que somos o que comemos, porque a comida é uma das necessidades mais básicas do ser humano, além de muito importante no fator saúde e doença. Somos o que trabalhamos, porque passamos a maior parte de nossas vidas fazendo isso e somos o que compramos porque ali nosso desejo estaria colocado, num objeto de consumo.
Seria um erro definir o homem apenas á seu pensamento, ou á sua alimentação, aos seus afazeres e aos objetos de consumo, quanto mais dizermos que somos apenas uma dessas coisas. Eu diria um pouco mais, não somos nem a soma de todas essas coisas, no máximo tudo isso seria uma pequena parte de nos, uma característica, nossa consciência, aquilo que está na ponta do iceberg, como diria Freud. O que somos então?
O homem não é sujeito da razão, porque há algo que a razão não consegue explicar e esse algo é o inconsciente. Segundo a Psicanálise somos todo o restante do iceberg que se encontra embaixo da água, ou seja, no inconsciente. A maior parte da vida psíquica é inconsciente e apenas uma pequena parte do psiquismo é consciente.  Logo então somos aquilo que não sabemos que somos, porque ao inconsciente não temos acesso, só o que sabemos é o que pensamos, compramos,comemos e trabalhamos, mas tudo isso está situado na consciência, por isso que não podemos definir o ser humano com essas poucas e sutis coisas, existem mais coisas, muito mais...
Para a Psicanálise o sujeito é aonde goza, onde está situado o seu prazer e a sua repetição. O conceito de gozo criado por Lacan diz respeito a um prazer inconsciente e ao mesmo tempo desprazer na consciência. Para Lacan o ser humano é um sujeito dividido pelo seu inconsciente e a sua consciência, porque ali aonde o sujeito sofre e repete, existe um gozo, um prazer inconsciente. Ao mesmo tempo em que a pessoa sofre, ela também sente prazer, por isso que é tão difícil conseguir parar de repetir e deixar de produzir sintoma. Sigmund Freud denominou sintoma, o que hoje conhecemos de patologias psíquicas, como: fobias, ansiedade, depressão, transtornos alimentares, transtornos de pânico, etc.
Somos sujeitos do inconsciente, somos em última instancia aquilo de mais íntimo que há em nós. Uma vez que o inconsciente se manifesta na repetição, no sintoma, no sofrimento, nos sonhos, nos atos falhos, nos esquecimentos e nos tropeços de linguagem, podemos dizer que não somos o que pensamos, muito pelo contrário, somos aonde não pensamos, somos definidos pelo nosso inconsciente.

Daniela Bittencourt - Psicóloga CRP 12/07184


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Você já ouviu falar de Anorexia Alcoólica?

Anorexia alcoólica, drunkorexia ou álcoolrexia, é um transtorno que mistura alcoolismo e distúrbios alimentares. A pessoa substitui a comida pela bebida alcoólica para emagrecer.  Um problema da vida real, o qual atinge, principalmente, mulheres de idade entre vinte e trinta anos que substituem a alimentação por bebidas.  Apesar de ser mais raro também encontramos homens com esse transtorno. Esse problema é mais comum do que se imagina e tem despertado interesse das pessoas.
Drunkorexia, termo originado nos EUA drunkorexia (corruptela com a palavra inglesa para bêbado — drunk), para designar o alcoolismo associado a distúrbios alimentares. A anorexia alcoólica se trata da restrição de absorção das calorias necessárias ao corpo humano e o abuso do álcool a fim de obter ou manter um visual esbelto. O álcool age como um inibidor do apetite e à medida que seu efeito passa, a pessoa passa a ingeri-lo em maiores doses e com mais freqüência evitando, com isso, o consumo dos nutrientes.
Há teóricos que acreditem que a anorexia alcoólica, na verdade não é uma anorexia, mas apenas uma conseqüência do alcoolismo, já que o consumo exagerado de álcool provoca a perda do apetite, logo o tratamento deveria ser o mesmo dado a qualquer outro alcoólatra. Um alcoólatra já em um estado grave é um sujeito magro, porque só se alimenta de álcool, ele literalmente deixa de comer. Mas existe uma diferença entre o alcoolismo e a anorexia alcoólica.
Para detectar esse transtorno e diferenciá-lo do alcoolismo é preciso haver além do uso abusivo do álcool uma preocupação exagerada em perder peso. A pessoa deixa de comer para poder beber e assim consegue manter o seu peso sem engordar.
No entanto, o peso alcançado por meio da anorexia alcoólica não é permanente, já que ela atua da mesma forma que dietas forçadas, e logo que a pessoa deixa de beber o seu peso volta, o famoso efeito sanfona.
Entre as causas possíveis desse transtorno destaca-se a pressão para se encaixar no padrão de beleza criado pela sociedade moderna, juntamente com o aumento do consumo de bebidas alcoólicas, principalmente entre as mulheres. Mas não podemos deixar de falar da vida psíquica infantil, como um agente importante na constituição da doença.
Quem sofre de drunkorexia muitas vezes não enxerga as conseqüências do transtorno e tem dificuldade em admitir que exista um problema. “A pessoa sempre acha que tem o controle da situação”.
Se uma pessoa come pouquíssimo a semana inteira, para poder consumir bebidas alcoólicas durante o dia, todos os dias, provavelmente está no início desse comportamento alimentar de risco, e quanto mais cedo isso for identificado, mais fácil será o tratamento.
Assim, o resultado dessa anorexia, a qual substitui alimentos por bebidas alcoólicas, é, geralmente, o alcoolismo; doença que requer cuidados. O tratamento da drunkorexia deve abordar duas questões, o distúrbio alimentar e a dependência química.


Daniela Bittencourt – Psicóloga – CRP 12/07184