A morte é a experiência mais
angustiante que passamos. Falar sobre a morte é sempre um tema
difícil, principalmente em uma sociedade que sonha cada vez mais com a juventude
eterna. Lutamos e ignoramos a morte e esquecemos que ela é um processo natural
da vida e que todos, sem exceção, irão passar.
O luto não é um sentimento único,
mas sim um conjunto de sentimentos e emoções que requer um tempo para serem
digeridos e resolvidos e que não pode ser apressado, cada um de nós tem o seu
tempo e isso deve ser respeitado. Apesar de o luto ser uma experiência comum a todas as
pessoas, ele é vivenciado de forma diferente por cada pessoa.
O luto, de modo geral, é a reação
à perda de um ente querido. O luto manifesta-se como estado de reação a perda
de algo amado e não implica condição patológica desde que seja superado após
certo período de tempo. É comum as pessoas passarem por cinco fases diante do
luto: a negação, a raiva, a barganha, a depressão e por último a aceitação.
Com
freqüência, as pessoas me perguntam quanto tempo dura o luto. Entendo que esta
é uma pergunta diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com
o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto. Aqueles que permanecem expressando tristeza
por um tempo prolongado são considerados fracos. Ou seja: o luto passa a ser
visto como alguma coisa a ser evitada e não, que precisa ser vivida. Mascarar
ou fugir do luto é sempre o pior caminho.
Em muitas
famílias, é tabu tocar no assunto. Mas à medida que falamos vamos nos
transformando e ganhando força para retomar a vida. Para
superar o luto, é importante não sublimar a dor. "É para doer mesmo",
O período do luto dura cerca uns dois meses, mas leva-se de um a dois anos para elaborar a perda. A dor
da perda é para sempre, mas a intensidade e a característica do sofrimento
devem mudar. Nesse
momento, o que a pessoa precisa é falar e ser ouvida, pois o "falar"
nessa fase é "terapêutico" e nisso os amigos e familiares podem ajudar.
Em relação às crianças, acredito
que a verdade deve ser dita, ao contrário do que as pessoas pensam não contar a
criança é pior do que contar a verdade, porque uma forma ou outra a criança
percebe, nem que seja inconscientemente o que está acontecendo. Alguns optam
por não contar acreditando que a criança sofrerá muito com o ocorrido, mas na
verdade o não contar é pior porque elimina a possibilidade da criança sofrer
pelo luto, passar pela dor e poder simbolizar o que viveu.
Em
algumas pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto. As
características do luto assimilam-se muito as da melancolia que possui como
traços marcantes desânimo profundo e penoso, cessação de interesse pelo mundo
externo e inibição de toda e qualquer atividade. No luto, verificamos que a inibição e a perda
de interesse nas atividades diárias são plenamente explicadas pelo trabalho do
luto.
Sigmund
Freud em seu texto luto e melancolia faz um diferença entre o luto e
a melancolia, aonde apenas na melancolia encontramos a presença de baixa auto-estima e
auto-recriminação, o mesmo não acontece em casos de luto. Mas é possível que uma pessoa
desenvolva melancolia, depressão como é chamado hoje em dia, após a perda de
uma pessoa querida.
Para elaborar o luto a pessoa precisa viver
esse luto, sofrer, chorar a falta da pessoa querida, e falar sobre o luto. Como o luto é um processo normal da
vida, a maioria das pessoas melhoram com o passar do tempo, mas se os sintomas
do luto persistirem é provável que pessoa tenha desenvolvido melancolia em vez
de luto e nesses casos o mais indicado é um tratamento, como a terapia.
Daniela Bittencourt - Psicóloga CRP 12/07184