Você já ouviu a
expressão “quando a mente não pensa, o corpo paga”? Certamente que sim. No
mundo psíquico isso não é muito diferente, pois quando a boca cala é o corpo
quem fala, ou seja, quando não se dá a devida importância a alguns sinais de
ansiedade, depressão e estresse é o corpo quem adoece, aí então aparecem às
patologias ligadas ao corpo e, no corpo, as dores, enxaquecas, gastrite,
sobrepeso, dermatites, enfim um corpo avisando que algo não vai bem.
Os novos sintomas
ligados os corpo como os transtornos alimentares, as compulsões por exercícios
físicos, por sexo, o excesso bebidas, a falta de comida, as incessantes
intervenções cirúrgicas, o horror do envelhecimento, a busca patológica da
saúde e todos os quadros de somatização, nos fazem pensar num corpo
hipervalorizado ao mesmo tempo em que apontado como fonte de sofrimento e
frustração.
Os sintomas no
corpo são mais facilmente percebidos nos bebês, uma vez que eles ainda não
falam, ele aparece atrelado ao corpo, como cólicas, choros freqüentes, refluxo,
o que deixa muitas mães angustiadas e sem saberem o que fazer diante desse
mal-estar. As doenças infantis, assim como as do adulto não são frutos apenas
do corpo biológico.
Somatização é o
nome dado popularmente para as doenças no corpo biológico que não possuem sua
causa orgânica, mas sim psíquica. Trata-se das patologias no corpo como expressão
do sofrimento psíquico.O adoecimento do corpo nos remete a relação entre o psíquico e o somático
(orgânico) e a relação do sujeito com o seu próprio corpo, de cuidado ou
desleixo, de falta ou excesso, de tudo ou nada.
Não podemos acreditar que o
corpo sofre apenas do que está doente nele e nem que todas as doenças físicas
têm sua origem apenas no corpo biológico. A realidade orgânica não exclui a
psíquica e vice-versa. O analista parece tornar-se aquele que destitui a doença
do paciente de sua condição orgânica, e a análise, seria o processo que visaria
descobrir sua causa psíquica.
A causa das
patologias no corpo não é puramente psíquica nem puramente somática (orgânica),
uma vez que estamos falando de um mesmo sujeito, o mesmo corpo, onde tudo está
interligado. O fato de a psicanálise tratar doenças físicas, mesmo que sobre
outro olhar, diferente do médico, não exclui de forma alguma o tratamento médico
convencional, muito pelo contrário, uma complementa a outra.
Na atualidade a
presença do corpo na clínica psicanalítica vai muito além das queixas somáticas.
A diversidade de sintomas nos coloca em contato com pacientes que sofrem de
doenças orgânicas e é o psicanalista que convida o sujeito a pensar sobre o que
lhe acontece, porque é através da fala que o analista pode atuar.
O fato de a
psicanálise fazer da linguagem o seu material privilegiado de trabalho, não
exclui o corpo da sua escuta, pelo contrário, ele está no centro da construção
teórica Freudiana, uma vez que Freud afirmou que o “eu” é antes de tudo
corporal, isso significa que o “eu” vai ser construído a partir do corpo.
Partindo da descoberta que a fala afeta o
corpo podemos perguntar que corpo é esse que pode ser acolhido pelo
psicanalista na sua escuta? Concerteza não é do corpo biológico que se trata, mas
sim do corpo pulsional, um corpo que procura ativamente a satisfação, uma
energia psíquica que busca o tempo todo pela realização de um desejo
inconsciente e infantil.
Daniela Bittencourt – Psicóloga CRP 12/07184
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