Será que podemos comprar a felicidade? Ligue e compre que entregamos em sua casa, ou se preferir compre pela internet sem sair de casa. Será que tudo na vida tem um preço e pode ser comprado? O capitalismo nos diz que sim e nos oferece vários objetos para que deles se possa gozar, ele cria uma demanda de compras como uma necessidade e incentiva o consumismo de comprar mais e mais. A felicidade para muitas pessoas está associada ao ter objetos de consumo, muitas vezes o prazer aparece apenas na hora da compra podendo levar depois a um arrependimento, ou muitas vezes a pessoa nem chega a usufruir o que comprou.
Para a Psicanálise o homem é sujeito da falta, logo se algo falta cria-se um desejo. Para preencher essa falta procura-se um objeto externo na tentativa de se fazer completo. Por objeto podemos entender qualquer coisa que ofereça ao sujeito uma satisfação e um prazer.
A quantidade de ofertas sedutoras de objetos que prometem tamponar o furo, o vazio, e dar a ilusão de completude, de um gozo intenso e imediato é o que mais existe na sociedade moderna. Mas será que existe um objeto capaz de trazer a felicidade? Ofertas é o que não faltam, mas a felicidade está associada ao comprar? Ou dito de outro modo o sentido da vida é consumir?
Dessa forma cria-se uma demanda infinita, mais e mais, pelas infinidades de objetos que existem. Quando a pessoa consegue o que tanto queria ela passa a desejar outra coisa e essa dinâmica se repete diversas vezes, porque a própria definição de desejo para psicanálise é sempre desejo de outra coisa, é movimento, porque o homem nunca vai deixar de desejar. De certa forma é um não quer saber da sua própria dor, própria falta, não quer se deparar com o vazio, a solidão, mas sabemos que a angústia é um afeto que não se pode fugir, nem por meio das compras, uma vez que o prazer obtido no ato da compra é tão passageiro.
Compra consciente será que isso é possível? Para isso seria necessário levar em consideração apenas o que é necessidade, o indispensável para viver, mas sabemos que o ser humano é feito de desejos, vontades e pulsões e que ele não consome por necessidade, mas por prazer. Isso é o que o diferencia do animal, que age apenas por necessidade. O desejo também não vem do nada, estão associadas às fantasias inconscientes infantis, aquelas construídas na infância e que foram reprimidas no inconsciente, mas que de certa forma determina o comportamento do adulto, na medida em que é na infância que se construí a personalidade.
Mas como saber diferenciar uma compra por prazer de uma compulsão por compras? Até aonde isso é benéfico e aonde se torna prejudicial? Constatar se há ou não uma compulsão é até digamos uma tarefa fácil, o mais difícil é cessar com esse comportamento prejudicial à pessoa e acabar com esse círculo vicioso, mas para isso é preciso analisar primeiro as causas inconscientes que levam ao consumismo, quais as fantasias infantis envolvidas e qual prazer inconsciente está por trás desse funcionamento, tudo isso devido à maioria das pessoas não saberem o porquê consomem tanto, só sabem dizer que isso as fazem feliz, que gostam de comprar, mas podemos dizer que isso não é tudo, que há bem mais coisas inconscientes que mantêm essa demanda infinita de mais e mais.
Daniela Bittencourt – Psicóloga - CRP 12/07184.
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